Por que uma ponte estaiada? III

No domingo dia 23 recebemos, finalmente, uma resposta consistente com relação à construção da ponte estaiada, com as justificativas técnicas relacionadas. Naturalmente quando a resposta é condizente o diálogo se estabelece. Importante, porém, para não transformar a discussão em algo maçante principalmente para quem é leigo - que a linguagem seja acessível e não tão técnica.

Infelizmente o projeto da ponte não foi disponibilizado para consulta e muitas das informações são restritas a contratantes, projetistas e construtores. Neste caso, só resta a quem comenta ou critica, especular sobre as possibilidades construtivas.

Todas as justificativas fornecidas são perfeitamente plausíveis, sabemos das dificuldades encontradas. Mas, há que se concordar que as dificuldades se dão em função das alternativas adotadas. 

E como não questionar a alternativa adotada se estamos construindo uma ponte exatamente ao lado de outra que data de uma época em que não se tinham os recursos tecnológicos de hoje, a Ponte Irmãos Rebouças.

Negros e abolicionistas, os irmãos desafiaram as fronteiras raciais do século XIX conseguindo ascender e tornarem-se referência para a engenharia do país.

A Ponte Irmãos Rebouças, construída por eles e entregue em maio de 1875, portanto antes da abolição da escravatura, foi a primeira ponte construída em concreto armado no Brasil, sistema estrutural aqui introduzido por um dos irmãos, André Rebouças. Além da ponte, José Rebouças em 1893 projetou, junto com Saturnino de Brito, expoente na engenharia sanitária, a rede de esgoto da nossa cidade. A construção da ponte, segundo a literatura disponível, teve suas fundações executadas com chumbo encravado no basalto, rocha de origem vulcânica do leito do rio, e recoberto por concreto. Os pilares foram estruturados com chaparia naval importada.

Com esse pequeno histórico, queremos mostrar situações análogas em épocas diferentes. Porque hoje, 136 anos depois, com as mesmas condições geológicas, mas com muita tecnologia disponível, não se consegue fazer algo sem esse malabarismo estrutural? Nessa época não existiam os tubulões hiperbálicos, o sistema de protensão, a técnica dos balanços sucessivos, as treliças lançadeiras, os explosivos especiais, etc. Apesar disso e para a nossa sorte, provavelmente foi nesta ocasião que conhecemos o “cimbramento caipira” utilizado para execução de pontes.

A utilização das pontes estaiadas é relativamente recente, da Alemanha do pós guerra na década de 50, espalhou-se pelos países da Europa e Estados Unidos na década de 60. No Brasil iniciou-se a sua utilização há aproximadamente 10 anos. Portanto é natural que, apesar da plasticidade da solução, seja uma alternativa discutível para alguns casos. Mesmo numa cidade como São Paulo, a ponte Otavio Frias de Oliveira gerou muita polêmica durante e após a sua construção. Quanto ao custo, segundo o próprio autor, engenheiro Catão Francisco Ribeiro, elas ficam mais baratas quando adotadas para vãos acima de 140m.

Provavelmente o próprio autor do projeto, assim como já fez em outros projetos, propõe um mirante sobre o vão central, ponto que já declaramos considerar controverso, por sua infra-estrutura para funcionamento, custo e outros já declarados.

Seguir a indicação do Projeto Beira-rio, que propõe uma generosa passarela para pedestres interligando as duas margens do rio, na face oeste da Ponte Irmãos Rebouças, é a solução que defendemos. Como já dissemos, essa seria uma obra que traria grande benefício aos pedestres que diariamente atravessam o rio e também ao turista que poderia estabelecer um circuito a pé, seguro, ao longo da orla. 

Egidio Simoni – arquiteto e urbanista

 

Referencias bibliográficas:

  • O quinto século – André Rebouças e a construção do Brasil  (Maria Alice Rezende de Carvalho - Editora Revan)
  • Mais que vencedores: Rebouças e convidados (Noedi Monteiro – Shekinah Editora e Gráfica – 1997)
  • Arquitetura Eclética na cidade de Piracicaba (Marcelo Cachioni - 2002)
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