Viver na Cidade

“De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas”.
Ítalo Calvino

Na 6ª BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA, o espaço do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) divulga (poderia dizer comemora) seus 40 anos. Em um breve filme constata-se como esta instituição se tornou um poderoso instrumento de planejamento urbano.

Sabemos da qualidade de vida diferenciada daquela cidade, e a enorme contribuição desse Instituto (modelar em nossa cultura, tão pobre de planejamento). Desde seu inicio, deram-se os passos decisivos nos parâmetros de uso e ocupação do solo, definição do centro histórico, prioridades do sistema viário, implantação de parques e de coleta seletiva de lixo, priorização dos equipamentos de educação e cultura, entre tantos utilizados como ferramenta num plano contínuo de desenvolvimento. Pensar a cidade como um organismo vivo, detectar os alertas de cada parte para implementar e corrigir ações: eis o cotidiano dos profissionais envolvidos num Instituto dessa natureza. Inteligência não é um atributo descartável.

O papel primordial do Instituto de Planejamento é pensar a cidade e suas demandas para além de um mandato: resguardá-la e sua dinâmica dos trancos a que fica sujeita a cada troca de administração. Por isso, penso no recém criado IPPLAP, com um tempo de vida tão curto e uma fragilidade institucional que requer de todos participação inteligente e esclarecedora, definidora de limites sobre seus objetivos para que não se perca, não se turve no nascedouro.

Tenho lido no JP várias menções ao IPPLAP, seu corpo técnico (tão pequenino), os desafios aos quais deve responder. E tenho a sensação de equívoco.

Nos seus primeiros anos, muito se construiu em termos de conhecimento da cidade, exaustiva interpretação e compilação de dados, confecção de plantas e elaboração de projetos. Passos decisivos foram as parcerias com as instituições de ensino, pesquisa, comercio, ONGs, etc.. Este esforço destacou a cidade, que passou a ser referência em intervenção urbana.

Há tanto, tanto a ser (bem) feito.

E temos, sim, projetos premiados em exposição nesta Bienal: o Projeto Beira-Rio (Fase 1 – implantada) e a reforma do Mercado Municipal, ambos concedidos pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil. Promovidos pelo Poder Público, com os apoios possíveis. Existem ainda no acervo do IPPLAP os projetos do Museu da Ciência para o Engenho Central e o da Praça José Bonifácio, também elaborados por profissionais capacitadíssimos, que consumiram muita energia de seu corpo técnico, além de recursos financeiros para sua consecução.

No entanto, à revelia do existente, pela fragilidade do próprio recém-nascido, usa-se o nome do IPPLAP, a simpatia e o prestígio que este angariou nessa breve existência, para validar “reformas” que se têm executado nos espaços públicos. 

Existe sim, um projeto para a praça, que promove mudanças e fornece preciosos indicativos de uso potencializado da área pública. Não é isso que aí está. O projeto apresentado publicamente no inicio de 2005 pelo IPPLAP propõe usar na praça conceitos norteadores para outras intervenções (soluções de piso, vegetação e iluminação), propõe a restauração do chamado LARGO da Catedral, entre outras diretrizes, e desenvolveu-se no bojo do Plano de Ação para Reabilitação Urbana da Área Central da cidade tendo em vista dinamização econômica, gestão, etc.

Ninguém tem o direito de se calar, principalmente quando projetos saem em desacordo com o já discutido e com uma sofrível qualidade de elaboração e execução.

Valendo-me da citação inicial, inscrita no espaço do IPPUC na BIENAL (cujo tema é VIVER NA CIDADE), ouso sonhar: minha cidade pode ter resposta mais elaborada para nossas perguntas.

Renata Toledo Leme
Arquiteta e urbanista
(Piracicaba, 12 /12 / 05)

Publicado no jornal de piracicaba dezembro de 2005 

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